Em 2010, 75% dos alunos das redes pública e privada não tinham internet em casa. Em 2014, um estudo feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou que 47% dos estudantes nordestinos não tinham computador em casa. Entre os 53% com um computador à disposição, ao menos 8% não contavam com serviço de internet para conectá-lo com o mundo. Enquanto isso, no município de Pereiro, a 400 quilômetros de distância de Fortaleza e com 16 000 habitantes, o empresário Roberto Nogueira,da Brisanet, a maior provedora de telecomunicações da região, corria para preencher essa lacuna tecnológica.

Caçula entre dez irmãos, Nogueira sentiu a seca pela primeira vez aos 5 anos, em 1970, quando a família atravessou o ano dependendo de alimentação providenciada pelo Estado. Ele começou os estudos aos 10 anos; quando completou 13, seu pai comprou um rádio de pilha. Até os 16, Nogueira não sabia o que era viver com energia elétrica, quando enfim sua casa ganhou uma televisão, cuja tela iluminou um novo universo de possibilidades. A série Cosmos, sobre a origem da vida na Terra, apresentada pelo astrônomo americano Carl Sagan, acendeu em Nogueira a curiosidade para entender como as coisas funcionam. Aos 21 anos, ele concluiu o ensino médio e o curso de eletrônica de rádio e TV por correspondência do Instituto Universal Brasileiro. Passou vinte anos em São Paulo, trabalhou na Embraer e voltou para Pereiro a fim de vender computadores e abriu uma escola de informática. Quando percebeu que a falta de internet impedia o interesse das pessoas pelo produto, fundou a Brisanet, em 1998, inicialmente oferecendo conectividade via rádio a cidades do interior.

“Na vida, aprendi a encontrar soluções para os problemas ao transformar a necessidade em negócio”, diz Nogueira. Entre 2011 e 2016, a empresa investiu em fibra óptica, e hoje mais de sessenta municípios têm a infraestrutura. Neste ano, a cobertura da Brisanet atingiu 200 cidades no semiárido. Depois de cinco anos de investimentos, Nogueira viu a empresa crescer 80% desde o ano passado e chegar à marca de 2 000 funcionários. Em sua maioria, pela falta de ensino superior de qualidade, são jovens em primeiro emprego. “Em vez de olharmos para o currículo, analisamos o histórico escolar. Se a média for de no míni